Evangélico casa com mãe de santo e enfrenta críticas de irmãos na fé: “Preconceito besta”
Vânia Rosa tem 60 anos e, como mãe de santo, toca um terreiro de umbanda na Murta, em Itajaí. O pescador Rogério Melo da Silva, 43, morava na região da Nova Brasília, e é evangélico desde que se conhece por gente. Para um olhar convencional, os dois não teriam muita coisa em comum que pudesse justificar uma união. Mas o destino tinha outros planos. Nesta quinta-feira, numa demonstração de que o amor supera até as mais radicais diferenças religiosas, Vânia e Rogério selam sua união com uma cerimônia espiritual.
A celebração do casamento acontece a partir das 20h. Vai ser no terreiro da mãe de santo, que é conhecida como Vânia da Mãe Iara. O centro fica no número 60 da rua Teodoro Lino Régis. “Estamos esperando umas 150 pessoas”, diz Rogério, animado. “Mas é uma cerimônia aberta a todos, qualquer pessoa pode participar”, emenda Vânia, no típico espírito “casa aberta”, comum entre os umbandistas.
Preconceito? Intolerância religiosa? Gente contra? Isso eles enfrentaram. Mas não pelo lado da mãe de santo. As contrariedades vieram principalmente dos religiosos da igreja que Rogério frequentava, a Comunidade Cristã, da Nova Brasília, segundo ele. “Na verdade, na igreja são contra esse relacionamento. Se fosse pra trazer pra igreja eram de acordo, mas aceitar ela sendo espírita eles não são de acordo. Ficou um clima chato”, desabafa o pescador.
O próprio noivo confessa que também teve preconceito. “Quando eu conheci, botei os olhos nela pela primeira vez, me disseram que ela era mãe de santo e aí eu me apavorei”, lembra, completando. “Eu sou nascido e criado em igreja evangélia, meu pai era crente da Assembleia de Deus”.
Mas a paixão falou mais alto. Combinaram de se encontrar num barzinho no centro de Itajaí e aí começou o namorico, há cerca de um ano. Quatro meses depois, já estavam morando juntos.
O preconceito de Rogério também se dissipou. “Toda vida ouvi falar que umbanda era uma bagunça, coisa de travesti, coisa de prostituta e do diabo. Cheguei aqui e vi que muitas coisas eram só uma lenda, um mito”, admite. E emenda: “Na verdade, o que vi aqui é uma caridade e enchi os olhos. Eu achava que era bom, que fazia caridade, conheci a Vânia e caiu tudo por terra”.
Cada um tem a sua religião
A mãe de santo sabia do preconceito. “Ele ficou com medo, achou que ficar com mãe de santo era muito perigoso”, conta Vânia, que hoje ri da situação. “Temos várias coisas em comum. Mas uma coisa que nós dois combinamos é que, por causa da religião dele e da minha não teremos conflito”, completa.
Rogério faz questão de dizer que continua crente. “Quando posso, quando não estou embarcado, vou em outra igreja, aqui na Murta. Minha vida evangélica continua ativa,” afirma, com ênfase.
Na cerimônia de hoje, de crentes somente os parentes do noivo. Nada de religiosos evangélicos. Da parte de Vânia, além dos parentes, amigos e filhos de santo, muitos líderes da umbanda estarão lá. “É um preconceito besta. Todos somos de carne e osso, ninguém é especial. Só Jesus é especial. Temos que deixar as pessoas viverem a felicidade, um amor. O amor é tudo na vida”, discursa a noiva.
A jornalista Margareth Santos, 33, filha de Vânia, tá acompanhando de perto a felicidade da mãe e lhe dando todo o apoio. “Acho maravilhoso. Não vejo problema nenhum nisso. Com o amor, a gente até acaba vencendo uma barreira que é o preconceito,” dispara.
Margareth tá na função de preparar a festa, que será no sábado, no salão paroquial da capela Católica da Murta. “Eu escolhi duas músicas. Uma é a Nossa Senhora, do Roberto Carlos, a outra é aquela evangélica ‘entra na minha casa/entra na minha vida’, do Régis Danesi. Mostrei pra minha mãe e ela achou linda”, conta.
Pai de santo aprova. Pastor não bota fé
O pai de santo Luiz Ramos, conhecido Luizinho de Oxalá, 60 anos, ligado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e Cultos Afros, estará hoje no casamento. “Vou entregar um diploma de casamento da nossa federação e fazer as homenagens”, diz.
Há 50 anos na Umbanda, pai Luizinho diz que nunca viu um evangélico se casar com uma mãe de santo e continuar praticando a própria religião. “Eu chamo isso de a força do sentimento. As coisas não vêm por acaso. Devarde não veio. É a força de um sentimento”, solta.
Para ele, essa união ajudará a combater preconceitos e a intolerância religiosas tão comuns nos dias de hoje. “Esse casamento pode ajudar bastante a quebrar esse tabu”, acredita.
O pastor Luiz Antônio, o Tony, responsável pela igreja Comunidade Cristã, de Itajaí, também nunca tinha ouvido falar na união de um evangélico com uma mãe de santo da Umbanda e em que os dois mantivessem suas próprias religiões.
Apesar de afirmar que respeita a decisão deles, o pastor teme que o casamento possa não dar certo por conta da diferença religiosa. “Num caso desse entendo como ‘jugo desigual’. Um evangélico casar com uma mãe de santo tá tudo ao contrário. Cada um tem seu Deus e isso vai dar problema entre os dois”, opina.
Cada igreja, explica o pastor Tony, tem seu próprio estatuto e pode aceitar ou não os vários tipos de uniões conjugais. “Têm igrejas, mesmo com essa coisa da homofobia, que tão casando e outras não”, exemplifica.
No caso da Comunidade Cristã, ele afirma que somente daria a bênção a um casal de religiões diferentes se, primeiro, eles estivessem casados em cartório de registro civil. “Se não obedecermos as leis do homem, como é que vamos obedecer as leis de Deus,” provoca.
A celebração do casamento acontece a partir das 20h. Vai ser no terreiro da mãe de santo, que é conhecida como Vânia da Mãe Iara. O centro fica no número 60 da rua Teodoro Lino Régis. “Estamos esperando umas 150 pessoas”, diz Rogério, animado. “Mas é uma cerimônia aberta a todos, qualquer pessoa pode participar”, emenda Vânia, no típico espírito “casa aberta”, comum entre os umbandistas.
Preconceito? Intolerância religiosa? Gente contra? Isso eles enfrentaram. Mas não pelo lado da mãe de santo. As contrariedades vieram principalmente dos religiosos da igreja que Rogério frequentava, a Comunidade Cristã, da Nova Brasília, segundo ele. “Na verdade, na igreja são contra esse relacionamento. Se fosse pra trazer pra igreja eram de acordo, mas aceitar ela sendo espírita eles não são de acordo. Ficou um clima chato”, desabafa o pescador.
O próprio noivo confessa que também teve preconceito. “Quando eu conheci, botei os olhos nela pela primeira vez, me disseram que ela era mãe de santo e aí eu me apavorei”, lembra, completando. “Eu sou nascido e criado em igreja evangélia, meu pai era crente da Assembleia de Deus”.
Mas a paixão falou mais alto. Combinaram de se encontrar num barzinho no centro de Itajaí e aí começou o namorico, há cerca de um ano. Quatro meses depois, já estavam morando juntos.
O preconceito de Rogério também se dissipou. “Toda vida ouvi falar que umbanda era uma bagunça, coisa de travesti, coisa de prostituta e do diabo. Cheguei aqui e vi que muitas coisas eram só uma lenda, um mito”, admite. E emenda: “Na verdade, o que vi aqui é uma caridade e enchi os olhos. Eu achava que era bom, que fazia caridade, conheci a Vânia e caiu tudo por terra”.
Cada um tem a sua religião
A mãe de santo sabia do preconceito. “Ele ficou com medo, achou que ficar com mãe de santo era muito perigoso”, conta Vânia, que hoje ri da situação. “Temos várias coisas em comum. Mas uma coisa que nós dois combinamos é que, por causa da religião dele e da minha não teremos conflito”, completa.
Rogério faz questão de dizer que continua crente. “Quando posso, quando não estou embarcado, vou em outra igreja, aqui na Murta. Minha vida evangélica continua ativa,” afirma, com ênfase.
Na cerimônia de hoje, de crentes somente os parentes do noivo. Nada de religiosos evangélicos. Da parte de Vânia, além dos parentes, amigos e filhos de santo, muitos líderes da umbanda estarão lá. “É um preconceito besta. Todos somos de carne e osso, ninguém é especial. Só Jesus é especial. Temos que deixar as pessoas viverem a felicidade, um amor. O amor é tudo na vida”, discursa a noiva.
A jornalista Margareth Santos, 33, filha de Vânia, tá acompanhando de perto a felicidade da mãe e lhe dando todo o apoio. “Acho maravilhoso. Não vejo problema nenhum nisso. Com o amor, a gente até acaba vencendo uma barreira que é o preconceito,” dispara.
Margareth tá na função de preparar a festa, que será no sábado, no salão paroquial da capela Católica da Murta. “Eu escolhi duas músicas. Uma é a Nossa Senhora, do Roberto Carlos, a outra é aquela evangélica ‘entra na minha casa/entra na minha vida’, do Régis Danesi. Mostrei pra minha mãe e ela achou linda”, conta.
Pai de santo aprova. Pastor não bota fé
O pai de santo Luiz Ramos, conhecido Luizinho de Oxalá, 60 anos, ligado ao Superior Órgão Internacional de Umbanda e Cultos Afros, estará hoje no casamento. “Vou entregar um diploma de casamento da nossa federação e fazer as homenagens”, diz.
Há 50 anos na Umbanda, pai Luizinho diz que nunca viu um evangélico se casar com uma mãe de santo e continuar praticando a própria religião. “Eu chamo isso de a força do sentimento. As coisas não vêm por acaso. Devarde não veio. É a força de um sentimento”, solta.
Para ele, essa união ajudará a combater preconceitos e a intolerância religiosas tão comuns nos dias de hoje. “Esse casamento pode ajudar bastante a quebrar esse tabu”, acredita.
O pastor Luiz Antônio, o Tony, responsável pela igreja Comunidade Cristã, de Itajaí, também nunca tinha ouvido falar na união de um evangélico com uma mãe de santo da Umbanda e em que os dois mantivessem suas próprias religiões.
Apesar de afirmar que respeita a decisão deles, o pastor teme que o casamento possa não dar certo por conta da diferença religiosa. “Num caso desse entendo como ‘jugo desigual’. Um evangélico casar com uma mãe de santo tá tudo ao contrário. Cada um tem seu Deus e isso vai dar problema entre os dois”, opina.
Cada igreja, explica o pastor Tony, tem seu próprio estatuto e pode aceitar ou não os vários tipos de uniões conjugais. “Têm igrejas, mesmo com essa coisa da homofobia, que tão casando e outras não”, exemplifica.
No caso da Comunidade Cristã, ele afirma que somente daria a bênção a um casal de religiões diferentes se, primeiro, eles estivessem casados em cartório de registro civil. “Se não obedecermos as leis do homem, como é que vamos obedecer as leis de Deus,” provoca.
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